GeoLitoral fortalece gestão ambiental no Litoral do Paraná

Projeto promove políticas de conservação através de novas soluções tecnologicas, diagnóstico ambiental e capacitação técnica 

Por Cecilia Sizanoski

No litoral do Paraná, onde o mar encontra manguezais, comunidades caiçaras e áreas de preservação, a gestão ambiental tem demandas urgentes, como a integração entre sistemas de diferentes órgãos e instituições e a otimização do trabalho de monitoramento ambiental através da capacitação de equipes, geração de dados espaciais e do desenvolvimento de novas ferramentas. Em busca de soluções, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável por gerir, proteger, monitorar e fiscalizar as Unidades de Conservação Federais (UC), recorreu ao Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (LAGEAMB), parceria celebrada com um Acordo de Cooperação Técnica entre as duas instituições desde 2014. O resultado desse encontro foi o Projeto GeoLitoral – Desenvolvimento Geoespacial e Capacitação Técnica no Litoral do Paraná, que visa à conservação de ecossistemas costeiros, o ordenamento territorial e o fortalecimento institucional do ICMBio.

O ICMBio é uma autarquia que toma conta de 340 Unidades de Conservação Federais (UC) em todo território nacional / Foto: Laura Krama

A chefe do Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio de Antonina e Guaraqueçaba, Camile Lugarini, conta que a instituição buscou o Lageamb por já terem trabalhado juntos em outros projetos: “Nossas informações de Georreferenciamento estão numa base de dados do Lageamb, eles já fizeram alguns trabalhos para nós e tínhamos outro projeto em conjunto”.

A proposta tem duração prevista de 24 meses, entre 2025 e 2026, e está estruturada em três eixos que cumprem demandas específicas: Soluções Geoespaciais de Software e Manutenção da IDE LAGEAMB-ICMBio; Diagnóstico Ambiental das Comunidades da Ilha Rasa e Compatibilização das Bases de Dados do Litoral; e Capacitação Técnica da Equipe do ICMBio.

Sistemas de aplicações geoespaciais

O primeiro eixo prevê ações relacionadas à tecnologia da informação e Sistemas de Informação Geográfica (SIG), como a criação de um Banco de Dados Espaciais sobre os territórios do litoral do Paraná. De acordo com a subcoordenadora do GeoLitoral, Laura Krama, cada um dos laboratórios e instituições armazenam dados de formas diferentes, e isso faz com que seja difícil encontrar e comparar informações. “Com o banco, teremos tudo centralizado e padronizado para facilitar a leitura e o cruzamento, permitindo backups, compartilhamentos ou restrições de dados”, esclarece.

Além disso, serão realizados estudos sobre o desenvolvimento de ferramentas para facilitar o monitoramento ambiental. Um deles visa melhorar a gestão dos autos de infração ambiental emitidos em áreas de conservação. Diferentes órgãos, como o ICMBio, o Ibama e a Polícia Ambiental, podem emitir autuações, mas cada um opera com sistemas independentes. A ideia é entender o funcionamento individual e sugerir caminhos para integrá-los de forma mais eficiente. Outro estudo busca embasar a criação de um sistema de detecção de desmatamento nas paisagens do litoral paranaense. Também será desenvolvida uma ferramenta de geoprocessamento para facilitar o reconhecimento de áreas com restrições ambientais.

Queremos que essas informações não fiquem apenas no laboratório, mas que sejam disponibilizadas para outros pesquisadores, gerando ideias de mestrado, doutorado e novas iniciativas de conservação” – Subcoordenadora do Projeto GeoLitoral, Laura Krama.

Também será realizada a manutenção e alimentação da Infraestrutura de Dados Espaciais (IDE) Lageamb – ICMBio, um conjunto de tecnologias, políticas, mecanismos e procedimentos que servem para facilitar a organização e o acesso a dados geoespaciais. O sistema é centralizado em uma plataforma que contém mais de 50 levantamentos e pode ser acessada pelo público geral.

Comunidades Caiçaras e Proteção à Fauna

Outras atividades do projeto se debruçam sobre o território da Ilha Rasa, que corresponde às atividades do segundo eixo. Na região, será realizado um diagnóstico ambiental para mapear e analisar as transformações no território onde vivem quatro comunidades tradicionais caiçaras (Ilha Rasa, Ponta do Lanço, Mariana e Almeida). A ação foi uma demanda do Ministério Público junto ao ICMBio. Com o uso de drones e sistemas de posicionamento global (GNSS), serão identificadas Áreas de Preservação Permanente (APPs), áreas de uso coletivo, desmatamento, construções e outras intervenções humanas. 

 

De acordo com Camile Lugarini, o propósito do diagnóstico é diferenciar os territórios pertencentes às comunidades caiçaras daqueles que foram ocupados de forma irregular por pessoas de fora da ilha. Com isso, o GeoLitoral deve promover uma gestão mais eficiente e integrada do território, alinhando preservação ambiental e direitos caiçaras.

Também se espera que as informações obtidas ajudem a promover ações de proteção a espécies ameaçadas da região, como o papagaio-de-cara-roxa. O animal é característico da ilha e a tem como principal habitat, mas está em risco de extinção: “A ocupação desordenada está relacionada ao tráfico do papagaio, desmatamento e à perda de habitat, o que fragiliza ainda mais a espécie”, destaca Lugarini. 

Capacitação do ICMBio

O GeoLitoral prevê ainda a capacitação dos servidores do ICMBio, através do preparo dos profissionais para o uso de ferramentas de monitoramento ambiental. As equipes serão treinadas quanto ao uso de drones para mapeamento e fiscalização; à utilização de aplicativos como o Smart e QField para coleta de dados em campo e à gestão de dados espaciais. “A ideia é que, além dos dados, tenhamos uma equipe mais capacitada para aproveitar todo o potencial dessas ferramentas”, reforça a subcoordenadora do projeto.


A trilha de aprendizado foi construída em conjunto com o ICMBio, alinhada às expectativas nacionais de monitoramento. “Fazemos isso para melhorar nossos procedimentos internos”, explica Lugarini. As capacitações combinam aulas teóricas e práticas, com emissão de certificados ao final.

Fomento Acadêmico e Políticas Públicas

Além de atingir todos os objetivos específicos dos eixos, o GeoLitoral como um todo deve impactar políticas públicas e estratégias de conservação, como o Plano de Manejo das Unidades de Conservação (UCs), o Planejamento Estratégico do Programa de Conservação do Litoral do Paraná (PELP) e a Política Nacional de Infraestrutura de Dados Espaciais (INDE).

Geolitoral - Lageamb
A Vila de Amparo está localizada no Município de Paranaguá e é uma das comunidades do litoral paranaense / Foto: Laura Krama

Para Laura Krama, o principal impacto do GeoLitoral é fomentar projetos e outras pesquisas a partir dos dados que estão tratando “Queremos que essas informações não fiquem apenas no laboratório, mas que sejam disponibilizadas para outros pesquisadores, gerando ideias de mestrado, doutorado e novas iniciativas de conservação”, afirma.

Já para a gestora do núcleo, Antonina Guaraqueçaba, a integração de dados de diferentes instituições é o principal pilar do projeto. “Aumentar a articulação entre os órgãos é fundamental para otimizar recursos”, explica. “Com ferramentas inovadoras, podemos caracterizar de maneira adequada as áreas que precisam de proteção, aumentando a eficácia na conservação de paisagens e espécies ameaçadas”, finaliza.

Uma Rede pela Conservação do Litoral

O GeoLitoral é executado pelo Lageamb em parceria com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Estadual do Paraná (FUNESPAR). Já o ICMBio surge como co-executor, assim como a Agência Escola UFPR, que realiza as atividades de comunicação e divulgação científica para o projeto. O apoio financeiro vem do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), através do Programa de Conservação da Biodiversidade do Litoral do Paraná (TAJ).



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