Supervisão Ocupacional como instrumento de produção de conhecimento aplicado à realidade social

Além de fomentar a atualização dos agricultores familiares assentados, atividades desenvolvidas no projeto que integra o TED-Incra/UFPR demonstram que a extensão universitária pode atingir milhares de famílias

Por Priscila Murr | Agência Escola UFPR  
30 de outubro de 2025 

Mutirão de atendimento de Supervisão Ocupacional realizado em Bituruna | Foto: Acervo Lageamb/UFPR

Como um instrumento de extensão universitária aplicado à realidade social, as atividades desenvolvidas pelo Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Lageamb) no âmbito do Projeto de Supervisão Ocupacional (SO) fomentam, além do próprio desenvolvimento da agricultura familiar de milhares de assentadas e assentados, o diálogo com questões sociais, políticas, econômicas e ambientais de forma integrada. Ao supervisionar in loco e orientar como se deve comprovar o uso e da terra, por exemplo, o Projeto de Supervisão Ocupacional  atua diretamente na promoção da cidadania, ampliando o impacto social de sua produção. 

O acompanhamento com relação à situação das famílias que utilizam os  lotes em projetos de Reforma Agrária no Paraná vai muito além do cumprimento formal da legislação. É uma maneira de promover a cidadania e a democratização da estrutura fundiária, assegurando que a terra seja efetivamente utilizada pelos assentados, mediante a implementação de infraestrutura adequada e a aplicação correta de políticas públicas relacionadas ao Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA).  

Equioe em campo no município de Iretama (PR) / Foto: Cecilia Sizanoski

Tais ações, contempladas pelo projeto de Supervisão Ocupacional, que faz parte do Termo de Execução Descentralizada (TED) firmado entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), contribuem, inclusive, para o combate à pobreza, a diminuição das desigualdades sociais e a promoção da segurança alimentar. A coordenadora do projeto, Liliani Marilia Tiepolo, explica sobre seu funcionamento: 

“O Projeto consiste em supervisionar cada lote dos assentamentos conveniados com a UFPR, para que se possa realizar a atualização cadastral de beneficiários, mas também verificar in loco a existência e a situação de ocupantes irregulares. Essas ações são realizadas com muito planejamento e cuidado, antes de ir para o campo e, em campo, lote a lote; depois o trabalho segue em escritório, para que a análise de regularização ocupacional possa ser feita, o que assegura uma série de benefícios para as famílias assentadas”. 

O desenvolvimento desse trabalho traz impactos positivos ao cenário da agricultura familiar. Isso porque, além de melhorar diretamente a vida no campo, pode contribuir com: ampliação de renda, segurança jurídica e acesso a políticas públicas variadas. A recente mudança na legislação, a partir da Lei 132/23, cria condições para que lotes ocupados de forma irregular possam ser regularizados com ocupação, uso e exploração comprovada há pelo menos um ano, o que viabiliza o acesso a política nacional de reforma agrária para mais famílias que estavam fora dos benefícios da política. A coordenadora do projeto estima que entre 30 e 35% das famílias que vivem nos assentamentos conveniados podem ser beneficiadas pela mudança na legislação, assegurando que os primeiros casos de regularização destas famílias, após a mudança da lei, em dezembro de 2023, estão sendo realizados pela equipe da Supervisão Ocupacional do LAGEAMB, por meio da parceria da UFPR com o Incra

Vistoria in loco no Projeto de Assentamento Nata em Iretama (PR) / Foto: Cecilia Sizanoski

 Portanto, supervisionando a ocupação de 130 projetos de assentamento no Estado do Paraná, o que totaliza cerca de 8.000 lotes, e visando à atualização cadastral, regularização e andamento no processo individual das famílias assentadas, o projeto de extensão tem previsão para realização até 2026. “Na Supervisão Ocupacional, eles querem ter certeza de quem ocupa e explora o lote. Segundo a Política de Reforma Agrária, os lotes são destinados às famílias, dentro de uma série de critérios, e a ideia é desenvolver a agricultura familiar. Então, é isto que é a SO: verificar como estão as ocupações dos lotes dos projetos de assentamento de Reforma Agrária do ponto de vista das famílias”, conta a bolsista de Pós-doutorado, Ariane Maria Basilio Pigosso. 

Contato com a comunidade | Foto: Acervo Lageamb/UFPR

Nesse sentido, Liliani lembra da importância da inter-relação entre o campo e a cidade. “É da agricultura familiar que vem a maior parte da nossa alimentação. Para nós, que vivemos na cidade, é de extrema importância que as famílias da reforma agrária possam ser regularizadas pois, como diz o camponês: ‘se o campo não planta, a cidade não janta’. Ter um lote de terra para cultivar no campo é o sonho de grande parte da população brasileira e, poder contribuir para que esse sonho se realize, causa grande bem-estar, não apenas para as famílias do campo, mas gera enorme satisfação entre nossa equipe técnica que estão trabalhando para que isso se torne uma realidade“. 

A multidisciplinaridade nos Projetos TED-Incra/UFPR

Equipe SO em reunião de alinhamento com fiscais do Incra de Brasília | Foto: Acervo Lageamb/UFPR

Assim como no próprio Lageamb, no desenvolvimento do TED-Incra/UFPR, há inter-relação entre todos os projetos. “Dependemos das digitalizações da equipe da Gestão Documental para fazer os planejamentos com nossa equipe de pré-campo, por exemplo. Existe muita troca de informações sobre os projetos de assentamento e lotes com a equipe de Geoprocessamento, desde acessos, contatos de lideranças, infraestrutura, entre outros. Nós geramos Procedimentos Operacionais Padrão (POPs), que são editados no Projeto 7, geramos os dados que abastecem o projeto de Banco de Dados, e assim por diante. Ou seja: todos os projetos são intimamente relacionados“, evidencia a coordenadora do P2. 

Por meio desse trabalho integrado e multidisciplinar, sensível e cuidadoso, utilizando-se de metodologias técnicas para levantar informações confiáveis sobre os lotes, o uso da terra e as condições de infraestrutura, o Lageamb contribui na produção de dados e diagnósticos, dando subsídio ao próprio Incra no sentido de formulação e aplicação de políticas do PNRA que sejam fundamentadas em evidências circunstanciais reais e não apenas em exigências legais. A Universidade tem trazido o panorama atualizado da situação de cada projeto de assentamento que visita, com grande troca de informações e expertises. Este é outro lado que o projeto proporciona, a formação de excelência de profissionais comprometidos e que passam a conhecer em profundidade os meandros de uma política pública, das mais relevantes no contexto social do país, frisa a coordenadora Liliani. 

Nesse sentido, a atuação da universidade na frente finalística do Incra é fundamental porque qualifica a Política Nacional de Reforma Agrária, aplicando a tríade, ensino, pesquisa e extensão com sensibilidade e conhecimento técnico para garantir cidadania, combater desigualdades e fortalecer a agricultura familiar, mostrando que a Universidade Pública tem impacto direto na vida das pessoas e na execução de políticas públicas. 

pt Portuguese
X