Instituições se unem em projeto inédito sobre impactos das mudanças climáticas em Unidades de Conservação

Projeto em parceria com a Fundação Grupo Boticário elabora Planos de Adaptação Climática e vai lançar um “guia” para Unidades de Conservação elaborarem as próprias medidas de prevenção a eventos climáticos extremos 

Por Cecilia Sizanoski

Na Mata Atlântica, inundações afetam o bioma e as comunidades que o habitam. No Cerrado, as secas são severas e frequentes, dificultando o controle de incêndios. “O planeta está sentindo de forma intensa os efeitos das mudanças climáticas”, afirma o gestor ambiental e subcoordenador do projeto Adaptando Unidades de Conservação, Bruno Martins Gurgatz. “A frequência e a intensidade dos eventos extremos aumentam cada vez mais e todas as áreas estão vulneráveis, desde centros urbanos até áreas naturais, completa”. 

Diante desse cenário, surge o Projeto Adaptando Unidades de Conservação, sob a coordenação do professor da Universidade Federal do Paraná, Eduardo Vedor de Paula, para desenvolver soluções baseadas na natureza que ajudem a lidar com os desafios dos eventos climáticos extremos nas Unidades de Conservação (UCs). A proposta veio de uma provocação ao Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Lageamb) feita pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. De acordo com o gestor de uma das reservas mantidas pela fundação, a Salto Morato, André Zecchin, a iniciativa traz “uma abordagem ainda não explorada pelas Unidades de Conservação no Brasil e incorporar a lente climática na gestão e manejo de áreas naturais “.  

"As Unidades de Conservação estão em protegem a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos por meio de regulamentações e manejo adequado", afirma André Zecchin / Foto: Arquivo Lageamb

A execução do projeto conta também com a expertise da Universidade Federal do Paraná (UFPR), MarBrasil e Agência Escola UFPR, além da parceria estratégica do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão das Unidades de Conservação federais. 

Frente a isso, são dois os objetivos principais do projeto. O primeiro é a criação de Planos de Adaptação Climática para duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba (PR) e a Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante (GO). Ambas foram selecionadas pela relevância ecológica e por serem áreas sob a gestão da Fundação Grupo Boticário: “Isso facilita a implementação de projetos pilotos. A partir dessa experiência, o segundo objetivo é desenvolver um roteiro metodológico para replicação em outras Unidades de Conservação, em parceria com o ICMBio”, esclarece o gestor. Nesse sentido, o segundo objetivo do projeto, realizado de forma paralela, é criar um guia nacional sobre como adaptar outras unidades de conservação. 

Como funcionam os Planos de Adaptação Climática?

Arte: Ana Vitória Dmengeon Dureck

Um Plano de Adaptação Climática é um instrumento com diretrizes para lidar com os cenários impostos pelos eventos climáticos extremos. Ele traz a perspectiva climática para os planos de manejo das Unidades de Conservação. De acordo com Zecchin, o plano deve apontar “os principais impactos dos eventos climáticos extremos e trazer um conjunto de recomendações para adaptação”.  

O primeiro passo para a elaboração de um plano é o diagnóstico ambiental. As reservas têm particularidades no ecossistema, detalhes territoriais e sociais e tendências climáticas históricas que serão identificadas pelos pesquisadores. Depois, a equipe vai avaliar as principais ameaças climáticas dentro das unidades de conservação e no seu entorno. Com os dados em mãos, vem a parte prática: propor ações de adaptação para se preparar para os efeitos das mudanças climáticas.  

As Unidade de Conservação do projeto

Arte: Ana Vitória Dmengeon Dureck

As Unidades de Conservação (UCs) são áreas naturais protegidas por lei, criadas para proteger ecossistemas, espécies ameaçadas e recursos hídricos, além de promover pesquisa científica e turismo sustentável. De acordo com Gurgatz, diferente do que pode parecer, elas não são apenas “florestas paradas”, são sistemas vivos que garantem água, proteção contra desastres e qualidade de vida para comunidades inteiras: “Essas comunidades no entorno da Reserva

Natural Salto Morato dependem muito dela para o abastecimento de água. Sem a preservação dos mananciais, o fornecimento estaria comprometido”.

A Reserva Natural Salto Morato é uma das que serão analisadas. Ela tem mais de dois mil hectares de extensão e 30 anos de existência em Guaraqueçaba, litoral norte do Paraná. De acordo com o Zecchin, as principais ameaças da Reserva são o corte ilegal da palmeira juçara, caça e presença de espécies exóticas invasoras. Somado a isso, as enchentes estão cada vez mais frequentes e intensas, inundando os acessos da Reserva e as moradias das comunidades do entorno. “Cerca de 50 famílias dependem da água do rio Morato e, por isso, são diretamente impactadas pelas enchentes”, explica. 

A Reserva Natural Salto Morato abriga cerca de 17 espécies ameaçadas de extinção. / Foto: Arquivo Lageamb
A Reserva Natural Serra do Tombador tem mais de oito mil hectares e é a maior do cerrado no estado de Goiás / Foto: Arquivo Fundação Grupo Boticário

Já a Reserva Natural Serra do Tombador fica no centro do Cerrado, em Cavalcante, Goiás, e é considerada prioridade “Extremamente Alta” para a conservação. A bióloga e gestora da reserva, Mariana de Oliveira Vasquez, aponta como principais ameaças a caça, espécies exóticas invasoras e, principalmente, os incêndios florestais e as secas: “Temos observado uma alteração no regime de chuvas, que estão cada vez mais escassas”, constata.

Do piloto à política pública: o próximo passo 

Os planos das duas reservas servirão como base para a criação de um roteiro metodológico. O documento é um passo a passo sobre como elaborar um plano de adaptação climática para outras unidades de conservação e está sendo elaborado simultaneamente com os estudos. “Precisamos ter no Brasil um sistema de Unidades de Conservação preparado para lidar com a crise climática e todas as mudanças que isso vai gerar”, explica o subcoordenador Gurgatz. 

Para a construção do roteiro, o projeto está montando um Grupo de Trabalho composto por representantes de instituições públicas de gestão do meio ambiente, organizações da sociedade civil, academia e comunidades. A ideia é que a mistura de saberes resulte em um plano que aborde todos os aspectos necessários. 

Espera-se que, com o roteiro, seja possível reduzir os riscos dentro das Unidades de Conservação, e ao redor delas, protegendo os espaços naturais e as comunidades que dependem deles. Ainda de acordo com Gurgatz, a proposta busca “disponibilizar um rol de soluções tanto para as unidades mantidas pelo Grupo Boticário, quanto para as federais”. Com o documento pronto, o grupo vai divulgar os resultados e espera tornar a funcionalidade em uma política pública.  

Arte: Ana Vitoria Dmengeon Dureck

Sobre a Fundação Grupo Boticário 

Com 35 anos de história, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para conservar o patrimônio natural brasileiro. Com foco na adaptação da sociedade às mudanças climáticas, especialmente em relação à segurança hídrica e à proteção costeira, a instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada em todos os setores. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, considera que a natureza é a base para o desenvolvimento social e econômico do país. Sem fins lucrativos e mantida pelo Grupo Boticário, a Fundação Grupo Boticário contribui para que diferentes atores estejam mobilizados em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou mais de 1.800 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas reservas naturais de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil pelo desmatamento – somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A instituição é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador e presidente do Conselho do Grupo Boticário, criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. 

www.fundacaogrupoboticario.org.br | @fundacaogrupoboticario (Instagram, Facebook, LinkedIn, Youtube, TikTok). 

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