João José Bigarella e seu legado de paixão pela ciência

Professor que empresta seu nome ao Anexo I do Setor de Ciências da Terra, no Campus Politécnico, completaria 102 anos em 2025

Priscila Murr | Agência Escola UFPR 
23 de setembro de 2025 

João José Bigarella | Ilustração: Nacoluan

Num misto de paisagens, a caminhada pelo Campus Politécnico, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), revela um espaço singular de três mil e seiscentos metros quadrados. Localizado no Setor de Ciências da Terra, o edifício João José Bigarella é muito mais do que um ambiente de estudos e trabalho, seu nome congrega 102 anos da história de vida de um apaixonado por geociências. 

João José Bigarella nasceu em 23 de setembro de 1923. Aos 90 anos, ele próprio descerrou a placa que leva seu nome, durante a cerimônia de inauguração do prédio, em 2013, cerca de dois anos antes da sua morte. Seu legado fica materializado não apenas num prédio que oportuniza a formação de mais e mais pesquisadores na área de Ciências da Terra, mas na ampliação do conhecimento acerca da geodiversidade, que fornece recursos e condições para o desenvolvimento da biodiversidade, sem a qual a vida não existiria.  

Engenheiro químico, geógrafo, geólogo, geomorfólogo, professor universitário, pesquisador. Lutando em defesa da preservação ambiental, Bigarella foi ícone das geociências no Brasil. Curitibano nato, passou boa parte da sua juventude na região central da cidade, onde morara com seus pais: José João Bigarella e Ottilia Schaffer Bigarella. Seu amor pela geografia surgiu dos passeios frequentes que fazia com sua família, observando os cenários litorâneos e também o modo de vivências na área rural.  

Num verão da década de 1940, no cenário das tantas histórias partilhadas com entes queridos, a praia de Matinhos (PR), conheceu sua companheira de vida, a artista plástica curitibana Íris Koehler Bigarella. Partilharam de 67 anos de casamento e tiveram três filhos. Juntos, trabalharam ativamente, criando associações e diferentes projetos de incentivo e preservação ambiental, como a Fundação João José Bigarella (FunaBi). 

Gostava de ser chamado de “professor”. Era fascinado por aquilo que o homem não criou. Viajou por toda costa africana e brasileira. Sua paixão pela exploração rendeu mais de 200 estudos, realizados em todos os continentes do mundo. Conquistou a mais alta notoriedade profissional, nacional e internacionalmente.  Inspirou seus descendentes e outros tantos jovens. Abandonou os laboratórios logo cedo, levava suas turmas para o campo. Incitava a curiosidade. O mundo era sua sala de aula.

O professor

Graduado em Ciências Químicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1943); também em Química Industrial, pelo Instituto de Química do Paraná (1945); e em Engenharia Química, pela UFPR (1953); tornou-se doutor em Ciências Físicas e Químicas, pela UFPR (1956).  

Começou a lecionar na UFPR em 1949, como professor das disciplinas de Mineralogia e Petrologia. Foi um dos fundadores do curso de Geologia e, com a criação do Departamento de Geologia, na UFPR, tornou-se o primeiro chefe do departamento, entre 1975 e 1976. Também colaborou na implantação de diversos programas de pós-graduação em universidades brasileiras. 

Na pesquisa, realizou trabalhos de investigação geológica a respeito das paleocorrentes e da migração dos continentes sul-americano e africano. Seus estudos sobre a movimentação dos continentes, a revisão global dos depósitos eólicos e da geologia e geomorfologia do quaternário brasileiro têm destaque. Além disso, foi o inventor do estereohelioplanímetro, também conhecido como “bigarelômetro”, um instrumento de medição das propriedades das paleocorrentes. 

Foi membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências da América Latina, além de ter sido presidente da Associação de Defesa e Educação Ambiental. Foi condecorado, em duas ocasiões, com a Ordem Nacional do Mérito Científico, concedida pelo governo brasileiro, em 1995 com o grau de Comendador, e em 2000 com o grau de Grã-Cruz. 

O prédio

Inaugurado em 19 de dezembro de 2013, o Prédio João José Bigarella está localizado no Anexo I do Setor de Ciências da Terra, no Campus Politécnico da UFPR. A homenagem ao professor se justifica por ele ser um dos pioneiros do Departamento de Geociências, que deu origem ao Setor de Ciências da Terra. Na plana original, são, ao todo, 3.600 m² de área construída, dividida em quatro andares, sendo 8 salas de aula, 7 laboratórios de pesquisas e 3 de informática, 17 gabinetes de professores, banheiros e cozinha. Além da nomenclatura em alusão à Bigarella, há um museu, com peças originais de trabalho do professor. Outros nomes importantes das geociências também são lembrados por meio de totens no andar térreo do prédio e plotagem nas paredes. 

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