Num misto de paisagens, a caminhada pelo Campus Politécnico, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), revela um espaço singular de três mil e seiscentos metros quadrados. Localizado no Setor de Ciências da Terra, o edifício João José Bigarella é muito mais do que um ambiente de estudos e trabalho, seu nome congrega 102 anos da história de vida de um apaixonado por geociências.
João José Bigarella nasceu em 23 de setembro de 1923. Aos 90 anos, ele próprio descerrou a placa que leva seu nome, durante a cerimônia de inauguração do prédio, em 2013, cerca de dois anos antes da sua morte. Seu legado fica materializado não apenas num prédio que oportuniza a formação de mais e mais pesquisadores na área de Ciências da Terra, mas na ampliação do conhecimento acerca da geodiversidade, que fornece recursos e condições para o desenvolvimento da biodiversidade, sem a qual a vida não existiria.
Engenheiro químico, geógrafo, geólogo, geomorfólogo, professor universitário, pesquisador. Lutando em defesa da preservação ambiental, Bigarella foi ícone das geociências no Brasil. Curitibano nato, passou boa parte da sua juventude na região central da cidade, onde morara com seus pais: José João Bigarella e Ottilia Schaffer Bigarella. Seu amor pela geografia surgiu dos passeios frequentes que fazia com sua família, observando os cenários litorâneos e também o modo de vivências na área rural.
Num verão da década de 1940, no cenário das tantas histórias partilhadas com entes queridos, a praia de Matinhos (PR), conheceu sua companheira de vida, a artista plástica curitibana Íris Koehler Bigarella. Partilharam de 67 anos de casamento e tiveram três filhos. Juntos, trabalharam ativamente, criando associações e diferentes projetos de incentivo e preservação ambiental, como a Fundação João José Bigarella (FunaBi).
Gostava de ser chamado de “professor”. Era fascinado por aquilo que o homem não criou. Viajou por toda costa africana e brasileira. Sua paixão pela exploração rendeu mais de 200 estudos, realizados em todos os continentes do mundo. Conquistou a mais alta notoriedade profissional, nacional e internacionalmente. Inspirou seus descendentes e outros tantos jovens. Abandonou os laboratórios logo cedo, levava suas turmas para o campo. Incitava a curiosidade. O mundo era sua sala de aula.