Aplicativo “Risco” deve ajudar moradores e autoridades a localizar áreas seguras e se preparar para eventos climáticos extremos

Garantindo o acesso à informação, sistema de alerta intuitivo poderá salvar vidas e minimizar riscos materiais 

Por Priscila Murr 
Agência Escola UFPR  

Área com risco de inundação. / Foto: Banco de Imagens Unsplash

O Brasil é o sétimo país em número de mortes causadas por inundações. Segundo dados divulgados pela Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o FGV IBRE, de 2001 até maio de 2024, 3.522 brasileiros perderam a vida em 111 enchentes. Na pior tragédia climática da história, com 95% das cidades afetadas, 183 mortos e 27 desaparecidos, as chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, no ano passado, trazem o alerta para a necessidade de criação de uma cultura de prevenção. E, a partir do desejo de democratizar o conhecimento, disponibilizando alertas sobre questões geográficas para toda a população, de forma simples e acessível, nasce o software “Risco”. 

O projeto surgiu a partir da pesquisa de mestrado do professor Robert Martins da Silva, na Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e, atualmente, tem continuidade no Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Lageamb) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sob coordenação dos professores Rogério Rodrigues de Vargas e Alexandre Lopes Bernardino. Seu desenvolvimento conta com a participação ativa de estudantes de diversos cursos, especialmente na etapa de levantamento topográfico. Essa integração proporciona formação prática de excelência e aproxima os graduandos de problemas reais enfrentados pela sociedade. 

Segundo Vargas, cientista da computação e integrante do Lageamb à frente da iniciativa, essa ferramenta tem altíssimo valor social, pois, além de permitir o acesso aos dados sobre riscos geográficos, o software poderá salvar vidas e minimizar prejuízos materiais. “Ele deve ajudar moradores e autoridades a localizar áreas seguras e se preparar para eventos extremos. Embora existam sistemas de alerta via SMS ou operados por defesas civis, desconhecemos uma solução integrada como o Risco. Ele se destaca por combinar georreferenciamento preciso com uma plataforma mobile intuitiva, simulador de alagamento e análise espacial baseada em dados técnicos confiáveis”. 

Programado para funcionamento intuitivo, o sistema, que será disponibilizado em formato de aplicativo, visa suprir a necessidade de informar a toda população de forma simples e acessível. “Além da ideia de ser gratuito, o diferencial está na base científica que sustenta o projeto. O sistema oferecerá previsões com base em dados reais, permitirá a simulação de eventos e notificará a população em tempo real. O usuário comum poderá visualizar com clareza as áreas afetadas, algo antes restrito a especialistas”. 

Vargas conta que o desenvolvimento do software, que ainda é um protótipo, levou mais de um ano. Já registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em nome da UFPR e da Unipampa, essa primeira versão conta com um algoritmo otimizado, capaz de gerar mapas topográficos com precisão e velocidade. Após os dois anos de efetivação do projeto, a ideia é que o uso do App seja efetivado em duas cidades: Paranaguá (PR) e Itaqui (RS). “Atualmente, estamos iniciando o levantamento topográfico em Paranaguá (PR), o que envolve visitas a campo, entrevistas com moradores e instalação de réguas digitais que funcionam com energia solar e transmissão via 4G — tudo isso sem depender de fios ou infraestrutura prévia. A coleta de dados utiliza tecnologias como drones, sensores LiDAR e RTK, tornando o processo robusto, porém demorado”, explica.  

Em Paranaguá (PR), essas ações se integram com outro projeto coordenado pelo Lageamb, o Periferia Sem Risco, que terá como produto principal o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR). Uma das medidas não estruturais indicadas no PMRR é a implementação do monitoramento da maré, que influencia diretamente os processos hidrológicos no município. Estes dados deverão subsidiar um sistema de alerta mais preciso para a população local. Com as áreas de risco mapeadas, a equipe técnica do Periferia Sem Risco orientou os locais mais críticos e estratégicos, para a instalação das réguas digitais, assim como forneceu outros dados coletados em campo que poderão auxiliar na qualificação do aplicativo Risco no município. 

Segundo o bolsista do Lageamb, graduando do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, no Centro de Estudos do Mar (CEM) da UFPR, Ernesto Carcereri Bischoff, “pelo fato de o software funcionar como uma medida não estrutural para gestão de risco em áreas que sofrem com a influência de marés, o projeto aponta áreas preferenciais em que réguas de medição seriam melhor aproveitadas, onde as moradias são mais afetadas pela dinâmica da maré”. Esse processo de instalação é relativamente rápido, com previsão de um a três meses para conclusão. Assim os dados já poderão ser coletados e sistematizados para alimentar a projeção dos cenários de inundação, e posteriormente, o sistema de alerta. 

Como será a utilização do aplicativo ‘Risco’

O aplicativo ‘Risco’ deverá promover o monitoramento quanto a inundações. Réguas digitais serão instaladas nas cidades, medindo o nível da água com precisão e, por meio do cruzamento de dados topográficos, cotas d’água, vento e outros fatores, o sistema será capaz de informar o risco quanto à segurança dos usuários que o utilizem. Dentro da plataforma, um simulador permitirá alterar parâmetros para simulação direta, no mapa, sobre quais áreas seriam atingidas em diferentes cenários. 

Visualização geral da interface do aplicativo. / Fotos: Rogério Rodrigues de Vargas

Para utilizar o App, o usuário deverá seguir este passo a passo: 

  • Instalar o aplicativo em seu celular; 
  • Criar uma conta e autorizar o uso da localização em tempo real;
  • A partir disso, o sistema identificará a área e exibirá, em um mapa interativo, os pontos de risco cadastrados (inundações, deslizamentos, explosões, entre outros); 
  • Caso esteja em área de risco, o usuário receberá notificações em tempo real. 

Para tornar essa ferramenta acessível de forma gratuita para a população, promovendo o conhecimento sobre áreas de risco e ajudando na tomada de decisão, Vargas aponta para o objetivo de oportunizar a gestão desse sistema por meio de órgãos públicos em parceria com o Lageamb/UFPR, fortalecendo a infraestrutura de defesa civil local. Já firmado, mediante assinatura entre as partes, este projeto é uma parceria entre o Lageamb, a prefeitura municipal de Paranaguá e o Grupo Iteralli (via CBL – Companhia Brasileira de Logística S/A), e tem duração prevista de 2 anos para execução, tendo sido iniciado a partir deste mês de junho de 2025. Em caso de interesse, por parte de órgãos públicos, na adoção desse sistema de notificação de riscos, o Lageamb está aberto para firmar parcerias institucionais que viabilizar tal implementação. Para isso, basta entrar em contato pelas nossas redes oficiais. 

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